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‘Aquilombar para Empreender’ é destaque no jornal O Tempo

No dia 20 de dezembro de 2023, o artigo “Aquilombar para Empreender” foi publicado no caderno de Opinião do jornal O Tempo. O texto foi escrito por Frederico Mendes de Carvalho, professor da PUC Minas e coordenador do projeto “Aquilombar: Fortalecimento da Rede Afroempreendedora”, idealizado pela Associação Move Cultura e realizado por meio do Fundo de Empreendedorismo Negro da BrazilFoundation. Confira o artigo e compartilhe:

A poetisa Júlia Elisa costuma dizer que somos o sonho mais insubmisso de nossos ancestrais. Não há exagero no que ela diz! A experiência do afroempreendedorismo que estamos construindo na região metropolitana de Belo Horizonte é inovadora em vários aspectos, entre eles, na construção de uma necessária insubmissão.

A maior sacada de empreender aquilombando está exatamente na construção de negócios colaborativos, em rede, nos quais a solidariedade e compartilhamento dão a tônica. Trazemos outra perspectiva, que é insubordinada porque busca a cooperação, e não a competição. Se João vende frango e Cristiane também, por que, em vez de se digladiarem disputando quem tem o preço mais baixo, não somam forças e compram juntos, barganhando com o fornecedor e barateando a matéria-prima e o frete?

Essa perspectiva dos negócios é uma herança afrodiaspórica, um jeito de construir empreendimentos forjados historicamente na luta das pessoas escravizadas no Brasil. A cooperação entre pretos e pardos é coisa antiga! As Casas de Zungu, por exemplo, eram negócios conduzidos por pessoas negras que vendiam angu e acolhiam escravizados que buscavam se recuperar e fugir da escravatura. Isso demonstra que aquilombar é uma tecnologia social que nossos mais velhos inventaram.

Aliás, o tino para os negócios também é um legado! A África sempre foi parte do comércio mundial. Sua posição e expertise foram utilizadas para garantir a vantagem das metrópoles europeias. Assim, é natural que um povo que tenha em seu DNA a circularidade e a união seja empreendedor. É no resgate desta ancestralidade que o afroempreendedorismo se faz marcante: ele permite a recuperação de subjetividades marcadas pelo racismo, da autonomia trazida pela renda e a construção de laços de solidariedade entre as pessoas. Ele nos possibilita agir na contramão da selvageria capitalista porque é pautado por outros princípios.

Ao trazer esses fundamentos aliando formação antirracista e empreendedora, surgem formas disruptivas de negócios. Desta forma, não apenas como estamos construindo nossa rede, mas o que esta está produzindo também é algo novo e revolucionário. Se de um lado mudamos a concepção das pessoas sobre empreender, por outro elas transformam suas relações, negócios e o lugar onde vivem.

A experiência da Rede Afroempreendedora da RMBH demonstra a vitória das práticas aquilombadas que resistiram a muitas formas de opressão porque são geradoras de vida, gestos germinantes e esperançados atos de transformação da realidade. Aquilombamento empreendedor não é sobre produzir mais do mesmo – lucrar e explorar. É uma forma de permitir a emancipação, a cidadania, de construir caminhos para o futuro.

Júlia está muito certa! Quando a gente empretece o mundo dos negócios, não dá para fazer igual, porque fica muito negritado que o objetivo é produzir de outro jeito, confluindo e compartilhando a riqueza. É isso o que nos move no projeto Aquilombar: o Fortalecimento da Rede Afroempreendedora. 

*O texto é de autoria de Frederico Mendes de Carvalho, Professor da PUC Minas e coordenador do projeto Aquilombar, da Move Cultura

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